Uma recente pesquisa revelou que jovens entre 20 e 25 anos jamais ouviram falar de David Bowie, Pink Floyd ou Bon Jovi. Sim, senhoras e senhores: Bowie, aquela entidade cósmica, hoje reduzido a uma ausência absoluta, a um silêncio, como o latido de um cão morto há décadas.
Fiquei a matutar: como é possível, em meio a tanta tecnologia, com toda essa panaceia de algoritmos e inteligência artificial, alguém não ter tropeçado nem sequer numa palhinha de "Wish You Were Here" ou "Livin’ On A Prayer"?
Mas, como castigo divino, descobri que há cantores — ou coisas parecidas com cantores — fazendo enorme sucesso no Brasil, e eu, pobre incauto, jamais ouvi falar de qualquer um deles.
Fui investigar e o cenário é ainda mais dantesco: carreiras que começaram anteontem, com um ou dois anos de estrada (quando muito), e já explodiram nesse novo "mainstream", uma terra de ninguém onde não sei quem manda, quem consome é muito menos como funciona.
Há um rapaz aqui no Brasil (que nunca ouvi falar), com a agenda lotada, milhões de seguidores e lotando estádios, mas veja bem, até hoje não me proporcionou o desprazer de ouvir uma única canção.
A pergunta, com sotaque shakespeariano, é: de onde, em nome de Hamlet, essas criaturas brotam?
Antigamente havia uma liturgia do sucesso: as rádios, a MTV, Gugu, Faustão — oráculos que nos indicavam quem estava "em alta". Era um buffet organizado. Hoje é como procurar lógica no feed do Instagram: não tem, nunca teve, e quem insiste só perde tempo.
Como um ser humano chega a milhões de fãs sem que eu, um homem razoavelmente informado, sequer saiba que ele existe?
Isso me parece um mistério mais intrincado do que o sumiço dos grandes astros do rock no imaginário desta geração.
Surgem atores que nunca vi, influenciadores com multidões histéricas seguindo e comprando tudo que oferecem. E há até escritores que são laureados por academias, sem que tenham escrito algo relevante.
Vi, pasmem, um sujeito limitadíssimo, uma fábrica de frases feitas, ganhando rios de dinheiro e lotando estádios para que uma multidão o ouça não dizer absolutamente nada. A loucura é tanta que ele acredita, piamente, que será presidente, e eu não duvido.
Está tudo muito estranho.
Às vezes penso que habito um universo paralelo, cheio de super-heróis que desconheço, hits que nunca ouvi, best-sellers que nunca lerei, humoristas que não têm a menor graça e coachs… muitos, muitos coachs. Brotando como cogumelos venenosos, ensinando aquilo que eles mesmos não sabem e nem nunca saberão.
Nos novos programas de entrevistas — os tais podcasts —, um universo de gente sem talento em conversas que duram quatro horas, das quais, com esforço, talvez se aproveitem dez minutos… e olhe lá.
A Internet vomitou gente estranha, pretensiosa, galhofeira e, no entanto, muito bem-sucedida.
E eu, idiota, sem entender nada, fico aqui, me perguntando: será que é isso que significa envelhecer? Ou, quem sabe, já estou morto, e, como Bruce Willis em “O Sexto Sentido”, ainda não percebi?
A Toca do Lobo
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