A autobiografia Eu Sou Ozzy é um mergulho visceral e hilário na mente de um dos ícones mais controversos do rock. Lançada originalmente em 2009 e relançada no Brasil pela editora Belas Letras, a obra narra desde a infância pobre de Ozzy Osbourne em Aston, Birmingham, até os excessos da fama como vocalista do Black Sabbath e artista solo. Com humor ácido e sinceridade brutal, Ozzy revela episódios marcantes como sua prisão por roubo, o início da carreira musical, e os bastidores de sua luta contra o vício em drogas e álcool.

O livro também traz momentos insanos que se tornaram lendas do rock, como o famoso episódio em que ele mordeu a cabeça de um morcego no palco, urinou no Alamo vestido com roupas femininas, e decapitou uma pomba com a boca durante uma reunião com executivos. Além disso, há relatos emocionantes sobre sua relação com Randy Rhoads, guitarrista que morreu tragicamente em um acidente de avião, e sobre o amor incondicional por Sharon Osbourne, sua esposa e principal apoio nos momentos mais sombrios.

A obra é mais do que uma coleção de histórias bizarras — é um retrato honesto de um homem que sobreviveu ao caos e à fama, e que encontrou redenção na família e na música. Ozzy não se poupa de críticas a si mesmo, e sua narrativa é tão envolvente quanto perturbadora. O livro é leitura obrigatória para quem quer entender o que há por trás da persona do “Príncipe das Trevas”.

Apesar de sua autenticidade, Eu Sou Ozzy pode ser visto como uma glorificação do comportamento autodestrutivo. Em alguns momentos, o tom cômico parece suavizar episódios que, na realidade, foram devastadores para ele e para quem estava ao seu redor. A linha entre confissão e espetáculo é tênue, e o leitor precisa estar atento para não romantizar o sofrimento em nome da lenda. Ainda assim, é uma obra poderosa que mostra que, por trás do mito, existe um ser humano complexo e vulnerável.

“Eu falei para Sharon: ‘Não me creme. Eu quero que me coloquem em uma caixa e me enterrem. E quero que todos fiquem de pé ao redor e digam: ‘Ozzy Osbourne era um filho da p***’. Porque é isso que eu sou. E você sabe disso. Todo mundo sabe disso.’”

Essa frase — “Eu falei para Sharon: ‘Não me creme’” — aparece em Eu Sou Ozzy como um dos momentos mais emblemáticos e sombriamente engraçados da autobiografia. Ozzy Osbourne, conhecido por seu humor ácido e visão excêntrica da vida e da morte, disse isso à esposa Sharon como um pedido sincero: ele não queria ser cremado após sua morte. A frase resume bem o tom do livro — uma mistura de irreverência, vulnerabilidade e uma visão única sobre temas profundos.

Ozzy compartilha esse desejo em meio a reflexões sobre sua mortalidade, os abusos que sofreu e causou, e o medo de desaparecer sem deixar vestígios. Para ele, ser cremado seria como apagar sua existência de forma definitiva, algo que contraria sua personalidade expansiva e sua obsessão por deixar uma marca no mundo. A frase, embora engraçada à primeira vista, carrega um peso emocional que revela o lado mais humano do “Príncipe das Trevas”.

Esse tipo de declaração mostra como Ozzy transforma até os assuntos mais sérios em momentos memoráveis. No entanto, também levanta uma questão sobre como o público consome essas histórias: será que estamos rindo de algo que deveria nos fazer refletir? A linha entre o humor e a dor é tênue, e Eu Sou Ozzy caminha sobre ela com maestria — mas exige do leitor sensibilidade para entender o que está por trás das piadas.

"Eu falei para Sharon: "Não me creme, de jeito nenhum". Quero ser enterrado, num jardim bonito em algum lugar, com uma árvore plantada em cima da minha cabeça. Uma macieira, de preferência, para que as crianças possam fazer vinho e se embebedar. Quanto ao que vão colocar na minha lápide, não tenho nenhuma dúvida. Se fecho os olhos, consigo ler:

Ozzy Osbourne, nascido em 1948. Morreu, tanto faz. Ele arrancou a cabeça de um morcego."


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